Aqueles olhos
Hoje enxergo o tempo
Como se fosse algo quase palpável
Não o senti passar
Mas sinto seu efeito durável
Nunca esquecerei daqueles tempos joviais
Em que só pensava em viver e aproveitar
Não notei o tempo voar
E sinto que não voei com ele
Às vezes vejo que continuo o mesmo
Aquela criança
Com aqueles olhos sinceros
Inocente
Sem preocupações
Ao lado da doce família
Mas os problemas um dia chegam
E vieram cedo
A morte. A dor
As mudanças
Muitos se foram
A guerra. O exílio
O cheiro do sangue
Os gritos. O medo. Os olhos fechados
Até hoje não voltei para aquela velha casa
Lembro do caminho da escola
Lembranças vivas
Então aqueles olhos foram enxergando
A realidade
E aos poucos foram se acabando
De tanta maldade
De tantos mares que chorei
Os sons das bombas ecoam na mente a noite
Os sonhos
Agora pesadelos
Aquele balanço
As crianças no parque
Os aviões chegaram
A brincadeira cessou
Sobrevivi a tudo aquilo sozinho
Será que valeu a pena
Continuar nessa vida até agora?
Com o passar dos frios dias aqueles
Pobres olhos foram indo embora
Fechando...Até morrerem...Até que na vida me joguei.
Agora, no fim do meu caminho, eu enxergo o quanto não enxerguei.
O quanto perdi. O quanto aqueles olhos sofreram e o quão cedo morreram.