DAQUI A CEM ANOS !
DAQUI A CEM ANOS...
Juliana Silva Valis
Daqui a cem anos,
Se ainda houver mundo,
Se ainda houver luz além dos céus insanos,
Tomara que o amor possa ser profundo,
Além dessa dor nos ideais profanos !
Daqui a cem anos, simples e reais,
Se o sonho de paz puder ser concreto,
Que seja a verdade que a vida traz,
Nem mais, nem menos que o tempo aberto !
Daqui a cem anos, se ainda houver tudo,
Se ainda houver Terra girando no universo,
Que o amor seja o mais sublime escudo,
Que a alma veja o próprio céu disperso !
Daqui a cem anos, céus, daqui a cem anos,
Em quais labirintos haverá saudade ?
No mar dos dias e dos desenganos,
Utopia inócua que a esperança invade !
Mas quero ouvir apenas o amor que brada,
Muito além do tempo e muito além da carne !
Como nada fui, não me apeguei a nada,
E tudo soa como alto alarme...
Sim, de fato, eu já perdi a hora,
Mas nunca me roubarão a mais sublime fé
Na paz que flui no sonho sem demora,
No amor que implora o que o futuro quer !
Daqui a cem anos, não estarei viva,
Então quero dizer algo transcendente,
Com toda a fé que a esperança ativa,
Como toda a alma, coração e mente !
E, posso assim, rir de mim mesma,
Feia e simples como sou apenas,
A aparência é esquálida como toda lesma,
Na carne que apodrece em partes tão pequenas !
Ah, daqui a cem anos, se houver futuro,
Vasculhe na alma os sentimentos seus,
Pois, sem calma, o tempo se revela escuro,
E como nada sou, apenas peço a Deus:
- Senhor, livrai-nos do passado duro !
- Senhor, guiai-nos no presente, em breus.