VERSO QUE ME ESCREVE
Juliana Valis
Não sei mais em que mundo o verso habita...
Além das estrelas trôpegas que clamam sós,
Suspirando o resquício de alívios tênues,
Por onde vagará a sensatez da alma ?
Pouco sei sobre o verso que me escreve,
No inverso de um coração sem calma,
Suplicando luz aos sentimentos como chama
Ou chagas ou ventos tão humanos quanto sós,
No universo que a emoção declama,
Imiscuindo, céleres, tantos vulcões em nós,
Como prantos tímidos que ainda serão chorados...
Pouquíssimo sei sobre o verso que nos escreve !
Confesso o vício de amarrar dias minguados
Às frias tramas de efeitos que nos prendem ao mundo,
Como se fôssemos letras, sentidos transfigurados
Ao fato de sermos bilhões de seres no mais profundo
Labirinto de sentimentos, dores, corações entrelaçados,
Indelevelmente, entre amores e desafios como fios da alma...
E quando os frios versos nos escrevem na vida,
Nesta estrada perdida entre a paz e a guerra,
Nada faz dessa Terra uma ilusão ressentida ?
Tudo jaz como sonho no coração que nos berra ?
Céus, quantas ruas caberão entre as lágrimas sós,
Derramadas como luas esquálidas, sem perspectiva,
Nas cruas, ligeiras faces da violência atroz,
Entre impasses da fé que nós queremos “viva” ?
Respostas, respostas, respostas...
Não se vendem respostas nas feiras da vida !
E se vendessem dádivas em promoções, apostas,
Talvez comprássemos inúmeros hectares de amor na lida,
Ou litros de fé, infinitos quilos de paz, de apreço,
Parcelados em cartões de um mundo que convida
A comprar, vender o que nunca teve preço !
Talvez, assim, fosse bem melhor não perguntar
Ao tempo, o que ele quer de nós ?
Ao mundo, o que ele fez do mar ?
Ao sonho, por que somos sós ?
À vida, o que ela quer mostrar ?
Se o sentido denso e mais veloz
Perde-se no verso a nos rimar,
Como explicar quem somos nós ?
Como viver sem perguntar ?
Por tudo isso, não se iluda,
Por nada disso, não me vejo,
Na estrada que transcende a alma,
O verso me olha lá do alto, no lampejo,
E ri da minha insignificância que acalma
O inverso na inconstância de um desejo,
Além da dúvida que vem e nos invade
Como amálgama de sonho desde cedo,
Não queria ser, mas já é tarde.
Não queria ter, mas tenho medo.
E, assim, quando a alma nos olhar já bem de frente,
E procurar, no âmago, amor sonoro e leve,
Além do mar, da sombra, da dor mais displicente,
Veremos a correnteza da vida que flui sempre tão breve,
Enfim, já nessa estrada entre sonho, céu e mente,
Eis que já não escrevo nada; o verso, sim, é que me escreve !
Juliana Valis
Não sei mais em que mundo o verso habita...
Além das estrelas trôpegas que clamam sós,
Suspirando o resquício de alívios tênues,
Por onde vagará a sensatez da alma ?
Pouco sei sobre o verso que me escreve,
No inverso de um coração sem calma,
Suplicando luz aos sentimentos como chama
Ou chagas ou ventos tão humanos quanto sós,
No universo que a emoção declama,
Imiscuindo, céleres, tantos vulcões em nós,
Como prantos tímidos que ainda serão chorados...
Pouquíssimo sei sobre o verso que nos escreve !
Confesso o vício de amarrar dias minguados
Às frias tramas de efeitos que nos prendem ao mundo,
Como se fôssemos letras, sentidos transfigurados
Ao fato de sermos bilhões de seres no mais profundo
Labirinto de sentimentos, dores, corações entrelaçados,
Indelevelmente, entre amores e desafios como fios da alma...
E quando os frios versos nos escrevem na vida,
Nesta estrada perdida entre a paz e a guerra,
Nada faz dessa Terra uma ilusão ressentida ?
Tudo jaz como sonho no coração que nos berra ?
Céus, quantas ruas caberão entre as lágrimas sós,
Derramadas como luas esquálidas, sem perspectiva,
Nas cruas, ligeiras faces da violência atroz,
Entre impasses da fé que nós queremos “viva” ?
Respostas, respostas, respostas...
Não se vendem respostas nas feiras da vida !
E se vendessem dádivas em promoções, apostas,
Talvez comprássemos inúmeros hectares de amor na lida,
Ou litros de fé, infinitos quilos de paz, de apreço,
Parcelados em cartões de um mundo que convida
A comprar, vender o que nunca teve preço !
Talvez, assim, fosse bem melhor não perguntar
Ao tempo, o que ele quer de nós ?
Ao mundo, o que ele fez do mar ?
Ao sonho, por que somos sós ?
À vida, o que ela quer mostrar ?
Se o sentido denso e mais veloz
Perde-se no verso a nos rimar,
Como explicar quem somos nós ?
Como viver sem perguntar ?
Por tudo isso, não se iluda,
Por nada disso, não me vejo,
Na estrada que transcende a alma,
O verso me olha lá do alto, no lampejo,
E ri da minha insignificância que acalma
O inverso na inconstância de um desejo,
Além da dúvida que vem e nos invade
Como amálgama de sonho desde cedo,
Não queria ser, mas já é tarde.
Não queria ter, mas tenho medo.
E, assim, quando a alma nos olhar já bem de frente,
E procurar, no âmago, amor sonoro e leve,
Além do mar, da sombra, da dor mais displicente,
Veremos a correnteza da vida que flui sempre tão breve,
Enfim, já nessa estrada entre sonho, céu e mente,
Eis que já não escrevo nada; o verso, sim, é que me escreve !