LIBERTAÇÃO

 

Um dia, inesperadamente,

Alguma coisa começou a crescer

Nos recônditos do peito,

Um sufocamento,

Algo que girava e crescia por dentro.

E quanto mais ela engolia aquela coisa,

Maior tal coisa se tornava.

 

Certa noite, ela acordou

Sem ar, morrendo,

Ao ver que os monstros horrendos

A tinham seguido além do pesadelo

E a cercavam, ameaçando, gemendo.

 

E assim, nasceu o grito,

Que foi crescendo, crescendo

Dentro da sua hibernação, do seu silêncio,

A escanção da alma.

E ela abriu  a boca,

E ela tomou fôlego,

E ela crispou as mãos, os pés, os músculos,

E deu voz à sua voz.

 

Foi quando crepúsculos cinzentos

Se arrebentaram em azuis,

Foi quando a escuridão mais profunda

Se transformou em luz,

Se esparramando, de dentro para fora,

E os monstros foram embora,

Acabaram-se os medos,

Pois aqueles que  a seguravam

E cortavam suas asas,

Perderam os dedos.

 

 

Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 23/11/2024
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