LIBERTAÇÃO
Um dia, inesperadamente,
Alguma coisa começou a crescer
Nos recônditos do peito,
Um sufocamento,
Algo que girava e crescia por dentro.
E quanto mais ela engolia aquela coisa,
Maior tal coisa se tornava.
Certa noite, ela acordou
Sem ar, morrendo,
Ao ver que os monstros horrendos
A tinham seguido além do pesadelo
E a cercavam, ameaçando, gemendo.
E assim, nasceu o grito,
Que foi crescendo, crescendo
Dentro da sua hibernação, do seu silêncio,
A escanção da alma.
E ela abriu a boca,
E ela tomou fôlego,
E ela crispou as mãos, os pés, os músculos,
E deu voz à sua voz.
Foi quando crepúsculos cinzentos
Se arrebentaram em azuis,
Foi quando a escuridão mais profunda
Se transformou em luz,
Se esparramando, de dentro para fora,
E os monstros foram embora,
Acabaram-se os medos,
Pois aqueles que a seguravam
E cortavam suas asas,
Perderam os dedos.