A POMBA BRANCA
A POMBA BRANCA
Era uma vez... (sempre estes termos suaves
A começar um conto ou uma história...)
Um bando que existia, algumas aves
Perdidas na distância da memória
Viviam sua vida em harmonia
Na paz do seu amor e dos seus sonhos
E sempre o sol que ao alto refulgia
Tornava os seus momentos mais risonhos
Comiam do que dava a natureza
Bebiam dos riachos e dos lagos
O trato se fazia na riqueza
Que tinham em carinhos, em afagos...
Vizinho ao seu local havia um grupo
Mas este, de pessoas, tão diferente...
Era constante entre elas o apupo
Um som que para o bando era estridente
Ralhavam por inveja, por cobiça
Por terras, por riquezas, por ganância
Não raro se envolvendo numa liça,
As aves as mirando na distância
Um dia, vendo o grupo, que se espanca
(Queriam a mesma árvore, na cegueira!...)
Do bando sai uma lesta pomba branca
Levando em bico um ramo de oliveira
Todos entenderiam pela certa
O gesto da pombinha, perspicaz
Que no seu simbolismo era uma oferta,
Da árvore em questão, a sua paz
Contudo alguém gritou: é estrago, o corte!
Quebrou! Traz um presente envenenado!
E abatendo a ave, dão-lhe a morte,
Um crime tão horrendo... tresloucado!
(A história vem dum sonho em pequenino,
Da arca das memórias ela arranca
Quem dera uma mudança no destino...
A paz chegasse noutra pomba branca...)
Joaquim Sustelo
(editado em RAIOS DE LUZ)