Concurso Novos Autores S/A

Tema: Casa

Título: Casa

"O importante não é a casa onde moramos.

Mas onde, em nós, a casa mora."

- Mia Couto

Às vezes constroem-se imponentes casas de madeira,

Às vezes impotentes castelos de areia.

Falando em outras épocas:

Não houve regras nem mesmices,

Nem de outros, quaisquer palpites,

Nunca deixei; (fui menino traquinas).

Até hoje em dia quando me apontam o dedo,

Aponto um lápis.

Na puerícia fui um príncipe - fui plebeu,

Fui o princípio das brincadeiras – fui o fim, pois também fui o rei.

Por essa razão ou outra, talvez,

Não existe agora, nesse tempo,

De um insatisfeito, nem um ínfimo resquício.

Vivia o hospício bem-vindo de um artista,

Vivia o “agora” sem a vil bola fora,

Que condiz com qualquer aprendiz.

Na parede da minha casa,

Descascada, carcomida,

Em linhas frenéticas de giz,

Comecei os primários esboços:

Linhas traçadas nas paredes

Do sóbrio Pollock de um metro e trinta.

O piso era velho, de taco,

E no meu quarto o desenho de um tabuleiro de xadrez.

Em frente à casa uma mangueira,

E uma mangueira para regar e tomar meu banho.

Um balanço sobre a roseira e os belos girassóis de Van Gogh...

Mas isso só em sonho.

Fui feliz naquela casa e nas outras que surgiram,

Pus meu toque ao adornar, pus a música e trouxe amigos.

Deixei o pássaro cantar, o verde crescer e o cachorro latir,

Deixei o chinelo sujo de barro na porta

E guardei a lembrança da minha mãe sorrindo.

André Anlub®

(2/10/14)