SOBRE A ARTE DE VIVER

Que inveja do jardineiro!

Quão terna é a vida que tem!

Dia a dia, o ano inteiro,

nunca uma queixa de alguém.

Velhinho, já sem saúde,

sempre com solicitude,

dos seus canteiros de flores

ao nosso encontro ele vem.

Tem lá consigo suas dores

quem é que, enfim, não as tem?

Todavia, por mais graves,

guarda-as sob sete chaves,

não as revela a ninguém.

Ele sabe: a vida é breve

e é só o amor que a sustém.

Não se escraviza a dinheiro

e dos vícios se abstém.

Assim, no seu passo leve,

me vai mostrar um canteiro.

Inveja-me o jardineiro.

Quão terna é a vida que tem!

(Da coletânea "Estado de Espírito" de Sergio de Sersank)