Ode ao carmesim
Ode às minhas entranhas que, noutrora tentadas pela vida, noutra pelo declínio, fincaram-se em meu peito como estacas. Enxergo-me numa jaula em um campo ensolarado. Enxergo-me coberta de marfim e, no fim, desfaço-me até que nem o tom mais sombrio de carmesim de minhas veias permaneça. Os olhos me cercam. Os olhares me guiam. De frente à janela, quase caindo ao parapeito, contemplo minha própria morte. Diante de todos os portais da eternidade, fechei-os, eu, que noutrora sempre fui tentada pela alusão que é sentir o sangue pulsar em cada parte que chamei de minha. Sim, eu, que noutra nunca tive a oportunidade de me sentir declinar. Quem sabe o parapeito anseie pela minha presença agora. Quem sabe o vento tenha carregado toda a poeira daquela janela.