Noite clara
Noite clara,
Me deito à cama.
Um peso no peito que do dia trago,
Agora transborda em lágrimas silenciosas.
Escorrem do meu rosto, e eu
De vergonha as liberto, sabendo que a razão,
É saber que dói ser assim
Pelos dias passando sozinho,
Sem mais companhia de alguém...
Ah, o sono não demora em chegar,
Pois dormindo me livro do pífio buraco,
Esqueço-me deste abismo que me persegue.
Mas quando acordo, na manhã do outro dia,
E sinto o travesseiro úmido de choro,
Rio como um louco, ao lembrar da tortura,
Que passei tão estupidamente na noite passada.
"Que gesto mais feio, que embaraço!
Que ação mais inútil e desesperada;
Pois nada vale choro, tortura, remorso,
A quem só quer apreciar as planícies;
— A quem é pássaro e voa liberto,
Entre os galhos da praça ou das matas;
— A quem é feliz por ser a si mesmo por inteiro;
A quem mão alguma lhe fere e lhe mata.
Donos do mundo, já que suas almas,
Inabaláveis como o mar em tempestade,
Vencem a consciência doentia dos maus pensamentos.