BraGil

ungiu a Bahia

com seu canto sagrado

quem é refazenda

conhece o torto arado

um Gil da Bahia, Xangô menino

filho de Salvador

salva a dor da pátria, ó imortal,

com duas mãos e sem uma corda vocal

vou secar as minhas lágrimas

na tua manta de artista, de homem

e de carnaval

pureza em forma de acontecimento

consolidou-se trovador de momentos

e ministro da paz

fazendo diplomatas crerem

que sem mitos e em um só ritmo

é mais fácil encontrar Deus

em todos os rituais

e mais

foi discípulo de Gonzaga

e de um álbum dos Beatles

de uma banda de forró

além de seus próprios ritos

fez-se uma antropofagia cultural

um belo doce bárbaro, um menino

de Áfricas, rios e brasis

que foi camélia do quilombo

em pleno lamaçal

bradando onipresentemente

os sons da nossa gente

com direito a todos os ais

equilibrados bem na beira do cais

cantador de letras

letrista de cantos

queria ser “musiqueiro”

e pai de menino

virou logo um pai

e um santo

que da música fez-se o canto

e do canto

todo o cantar brasileiro

pelos cantos do mundo inteiro