O Guardador De Sonhos (a Pessoa) por Jorge Humberto
O Guardador De Sonhos
(a Pessoa)
Eu sou um velho guardador de sonhos
Minha alegria é um cajado
para guardar com cuidado
as tardes ao longe
Meus sonhos não os idealizo
são como que feitos de puro granizo
e da sobra de cada um
moldo-os, um após um, a sonho nenhum
Ah, triste guardador de sonhos
para onde levas o teu rebanho
não sabes que a alma e o cenho
estão na simplicidade das coisas?
Mas eu sou um velho guardador de sonhos
e o meu sonho é ser as flores
e o vento que passa…
e assim dividido entre dois amores
ser o que passa sem olhar para trás
Eu sou um velho pastor
circundam-me as coisas e coisas nenhumas…
Ao canto do olho sou o amor
e a palavra vincada às unhas
sou as flores e as crianças
e coisas nenhumas
Eu sou um velho guardador de sonhos
e o meu sonho é um cajado
para guardar com cuidado
os sonhos de cada um
- Para onde vais, ó pastor?
Eu vou ser aquela flor
e o vento que passa
e a criança e o amor
Mas eu sou um velho guardador de sonhos
E o meu sonho é um pião
Que gira até mais não
Na mão de uma criança
Mas eu sou só um velho guardador de sonhos
E a minha alegria é ser as coisas
E coisas nenhumas
E o vento que passa
E as flores e as crianças
Ah, como é bom sonhar
sem que faça sentido haver sentido
sentido nas coisas!
Mas eu sou um velho pastor
e guardo com todo o cuidado
o amor que me é dado
na ponta de meu cajado…
Jorge Humberto
22/12/05