Ao poeta simbolista

A procissão contrita

das horas

vagou pelas ruelas de granito.

Anjos de agouro voavam pra lá,

pra cá

e o poeta simbolista.

Meninas de olhos amêndoas,

de mãos postas,

olhavam estrelas que pingavam

como velas dos castiçais

e as velhas rezavam alto.

Liturgicamente codificados

e o poeta simbolista.

Os passos arrastam séculos.

Pés paupérrimos,

pés fidalgos,

bondosas crenças,

brancas, alvas, claras,

pomposas farsas.

Um rito previsto no altar enfeitado

e o poeta simbolista.

Das janelas noturnas, frestas.

Almas ressuscitam andores dourados,

relicários,

painéis santificados

e pecados preparados

na carne, no verbo e na penitência

e o poeta simbolista

que chore.