DESTINATÁRIO - para o poeta João Cabral

O poeta João Cabral de Melo Neto nasceu dia 9 de janeiro de 1920 no Recife, Pernambuco, e hoje completaria 100.

João Cabral faleceu em 9 de outubro de 1999 - lembro exatamente o que fazia e onde estava quando recebi a notícia da sua morte. Por motivos opostos, João Cabral e José Saramago são como pais da minha escrita: João, por sua moderna economia no uso exato da palavras que não faz curva no discurso; e José, pelas voltas barrocas de uma prosa humanista sem igual.

Esse poema é mais agradecimento que homenagem a João Cabral e sua onipresente poesia.

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Sem destino, voz para surdo.

Tivesse ouvidos ouviria o rio.

Se a vista turva logra d'ouro

o campo semântico deserto

sem elixir e só o resistir é inútil.

Corre o drama, desçamos!

Na foz espera-nos um barco quebrado.

Ali, onde reside o gramático matemático.

A forja constante do poeta é a maré

e remonta a pedra dura esfarelada

também o tapete verde do canavial;

Minha vida em 2 sílabas entorpecida,

osso tóxico sedimentado sem efeito

na descida feita oceanografia seca;

Burburinho estéril que dede a fonte

precipitou no túmulo leito pedregoso.

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Baltazar Gonçalves

Baltazar Gonçalves
Enviado por Baltazar Gonçalves em 09/01/2020
Código do texto: T6837816
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