Adélia parece que escreve

Para Adélia Prado,

com beijo e com queijo

Adélia parece que escreve

sentada à mesa da cozinha,

em cadeira rústica,

enquanto recebe o sol da tarde.

Adélia parece que escreve.

Mas na verdade ela reza.

Para que as coisas continuem na sua condição de coisas,

para que o humano não deixe de ser humano.

Adélia parece que escreve,

mas na verdade ela reza:

ladainhas plenas de cor e brilho

que só os passarinhos entendem.

Ela reza para que sua força de mulher produza a obra,

para que não se engaiolem os sonhos.

Para que não se desengraxem os sapatos,

para que as palavras não morram.

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[Poema escrito em 30/janeiro/2004]