ODE A CORURIPE ( A minha Terra Natal )

ODE A CORURIPE ( a minha Terra Natal )

Coruripe,

hoje, como sempre, me lembro de você.

Quanto tempo se passou ...

Quantas recordações para rememorar

e quantas saudades para sentir ...

Meus primeiros anos de vida

na Rua do “ Cassaco “

- como chamavam minha rua feia, esburacada,

de barro vermelho ...

Depois,

na casa coberta com palhas de coqueiro,

na subida do Cruzeiro,

e meu início de juventude, no chalé de taipa,

na Rua do Jasmim, antigo 44, na Vassoura !

Coruripe,

como você, eu nasci modesta,

para ser simples a vida inteira.

Por isto, sinto saudades do tempo

em que me chamavam "Maria do Amparo".

- Você se lembra ?

Eu virei adulta, tomei outros rumos,

e, pelas circunstâncias,

mudei até de nome.

Na minha convivência cotidiana

com ilustres desconhecidos,

em terras distantes,

prevaleceram os "apelidos" escritos

na Carteira de Identidade :

Maria Nascimento Santos,

porque, diferentemente de você,

de seus habitantes,

ninguém lá fora conhecia "AMPARO",

o meu pai ...

Distante de você,

tudo mudou em minha vida,

contudo, existe em mim a simplicidade

herdada de meus pais, do meu povo,

de você, Coruripe.

E é por isto que nos identificamos tanto ...

Você tem o seu "batel"

- o Batel de Coruripe -

canal que liga o rio ao mar, na Barreira ...

Eu tenho o meu "batel",

Batel de Fantasias,

meu primeiro livro de trovas,

que tantas alegrias me proporcionou.

Deus cercou você de encantos

e me deu o sublime dom de fazer poesias,

para cantar sua beleza poética

nestes versos brancos, coloridos de amor ...

Coruripe,

você nasceu com a simplicidade dos puros

e não se sofisticou, apesar do progresso.

E como é gratificante lembrar

os nomes primitivos de suas ruas,

simples como você :

Rua do Rato, do Cassaco,

da Palha, da Cadeia,

do Fogo, do Cemitério,

Rua Nova, das Cacimbas,

do Alecrim, do Comércio,

do Jasmim, do Cruzeiro,

Alto do Bode, Ilha das Cobras,

e tantas outras de nomes simples como você !

Um dia, Coruripe,

quando o progresso passou por aí,

até tentaram mudar o nome de algumas ruas,

mas seu povo, simples como você,

ignorou o que estava escrito nas placas

e continuou a chamar suas ruas

pelos nomes já consagrados pelo uso.

Rememorando o seu perfil geográfico,

projeta-se em minha mente

uma tela modesta

enriquecida com moldura de ouro.

De um lado,

você tem a Estiva, o "Glória",

o Camaçari, a Pindorama,

e os majestosos e doces canaviais

que se perdem de vista no horizonte ...

De outro lado,

você tem os manguezais ;

os rios, de onde os pescadores

retiram seu sustento.

E, entre eles, o Rio Coruripe,

que corta todo o município,

indo desaguar no batel,

no Canal da Barreira,

próximo ao mar contrastante

do Pontal de Coruripe, ora verde, ora azul,

ora verde azulado, ora azul cinzento,

ora manso, ora violentamente bravo,

mas sempre um espetáculo fascinante.

Suas águas fazem contorno,

formando um outro lado da moldura :

Lagoa do Pau, Jequiá da Praia

e os arrabaldes

que exalam o perfume das flores do campo

e o cheiro gostoso das águas do mar,

e se ornamentam com os ensolarados coqueirais,

que emprestam maior relevo

ao projeto do Arquiteto Celeste.

E, completando a moldura :

a Rua da "Linha", depois do Cruzeiro,

a "Driana", riacho de águas prateadas,

esverdeadas pelo reflexo dos juncos ;

a Grota da Palha,

lembrança viva de minha meninice;

e um emaranhado de mata virgem,

embrutecida pela austeridade da fauna bravia

e das árvores gigantescas,

que segue sem destino até não sei onde,

marcada por verdes de todos os tons,

e atenuada a sua agressividade

de floresta impenetrada

pelo canto dos pássaros

e pela delicadeza das flores silvestres,

coloridas, tímidas e amedrontadas.

Lembro-me da "levada",

no cercado do Juquinha,

onde as lavadeiras se reuniam, todos os dias,

para ganhar o sagrado pão de cada dia ...

Recordo as cacimbas

que matavam a sede da população ;

a cacimba do Cruzeiro, a da Forma,

a do Juquinha, a do Saburica, a do Zé da Rua,

e outras tantas ...

O que fizeram com a cacimba do Cruzeiro,

a mais produtiva, a cacimba secular,

ponto de encontro das pessoas mais simples ?

Quando o progresso apareceu por aí,

Coruripe,

os homens trocaram seus veios naturais

por veias artificiais - os canos d'água -

e a cacimba do Cruzeiro,

patrimônio histórico, pelo seu passado glorioso,

foi tragada pela inconsciência do homem,

que, muitas vezes, nem percebe

por onde o progresso não deve passar ...

E, hoje, a cacimba do Cruzeiro

que cultivou tantas avencas em suas bordas barrentas,

não pode nem verter uma lágrima de tristeza

pela incompreensão humana ,

porque encheram seus olhos d'água de entulhos.

E, nivelando-a por baixo,

como coisa sem importância,

dilaceraram suas bordas

e trocaram a simplicidade de seu chão macio

com cheiro de terra

pela dureza cruel das pedras sem alma,

que sequer deixam brotar uma flor,

pela morte de uma cacimba

que nascera para ser eterna,

um monumento histórico,

e para contar a história da vida da cidade.

Coruripe,

como eu guardo marcantes recordações

do Grupo Escolar Ignácio de Carvalho ...

Como o meu coração tem chorado

pela morte da cacimba do Cruzeiro,

ponto de encontro das pessoas

simples como você ...

Como eu sinto um profundo pesar

pelo desaparecimento da Gruta do Cruzeiro,

da Capela de Santo Antônio,

e da Igrejinha de São Pedro !

Como eu gostaria de voltar ao tempo

do chalé de taipa da Rua do Jasmim,

antigo 44, na Vassoura ...

Como eu sinto uma infinita falta

da "Maria do Amparo" ...

Ah ! Coruripe ...

Como eu sinto saudades de você ... e de mim !

Maria Nascimento Santos Carvalho

Site : www.marianascimento.net

Maria Nascimento
Enviado por Maria Nascimento em 11/08/2007
Código do texto: T602012