UM POEMA

UM POEMA

(ao poeta Ulisses Duarte)

Venho dar-te razão:

num poema não se explica

claramente

o que com ele se pretende.

O poeta extasiado escreve

e em êxtase fica

enquanto aplica

as palavras em que se transcende;

Metáforas que são

de incerta dimensão

ideias que a alma deteve

e pôs a fervilhar

em breve sonho...

E paira a esvoaçar

na brisa, ao de leve,

o poema que compões

e que eu componho;

Tal como o colibri

não explica porque beija a flor,

ou a andorinha também não o faz

quando ao beiral regressa;

Tal como a cegonha não diz do amor

ou da paz com que atravessa

os ares, nos seus trilhos

levando o alimento para os filhos...

Um poema é um acto de amor

de esperança, de alento, ou desalento

e basta que o leitor daí deduza

algum alcance havido no momento...

O entender com mais... menos rigor,

saber se o inspirou alguma musa,

ou ler correctamente as linhas

em vez das entrelinhas,

tem ar de secundário...

Um poema

que imortalize o seu autor,

tem o valor da folha

que um dia (até) secou

e que depois formou

com outras folhas, um herbário.

Joaquim Sustelo

(em ENQUANTO A BRISA SOPRA)

Joaquim Sustelo
Enviado por Joaquim Sustelo em 10/08/2007
Código do texto: T601172