Aos que gostam de escrever
Escrever
Trabalho que me dá prazer
Me deixa ver e ser visto
Faz-me locomover
Ser um ser no qual invisto
Expandir algo que penso
Pra não me deixar tão apenso
Às coisas que sinto
Sei que não me dá o sustento
Mas me sustenta o fazer
E fazendo não lamento
Dedicado àquele intento
Porque no tosco risco lento
De um papel mesmo ao relento
O agir do pensamento
Com a ferramenta mão
Concretiza o sentimento
Do querer de uma paixão
Escrever as coisas lidas
Que mesmo com o tempo esquecidas
Mal vistas ou bem interpretadas
Como as coisas dessa vida
Eu não sei se é um dom
O escritor bom
E pronto
Se já nasce
Por encanto
Aquele que escreve um conto
Uma prosa ou poesia
Como Cora ou Mia Couto
Ou rabisco qualquer
Eu só sei que sou teimoso
Porque desde cedo eu ouso
E até me sinto famoso
Quando alguém pega e lê
Eu mais sei que escrever
É um caminho que percorro
Chamamento de socorro
Ou um brado de alegria
Expressões das vinte quatro
Horas dos quadros do dia
É um grito de mulher
Ao parir uma criança
Ao encontro da esperança
Num mundo em calamidades
Nas ruas de longa andança
Nos guetos e nos seus sonhos
Nas garatujas e rabiscos
Pelos ermos das cidades
Gritos parecendo bombas
Olhos de atrocidades
Escrever não enfadonha
Nos humaniza os caprichos
Creio nos torne iguais
Menos feras
Menos bichos
Se bem que os animais
Não escrevem
E são vistos
Até bem mais racionais
Escrever
É mostrar parte
De você
É uma arte
É expressão do viver
Por isso
Peço ao leitor
Papel e lápis
Por favor
E com amor
Tente escrever