Que sonha e que mente - Poema em homenagem à poetisa Júlia Maria da Costa

Uma mulher com um fardo pesado,

inteligência aguçada,

beleza em olhos estrábicos

dos quais apenas se podem presumir

a direção para que tanto olham.

Uma menina que ainda não é mulher,

uma mulher que ainda é menina,

que sonha e que mente,

que voa, cai e levanta

na beira de uma praia.

Um homem bem mais velho,

um casarão enorme cheio de escravos,

festas, política e discussões,

não podem deixar feliz

um coração que nasceu para a sensibilidade

de uma paz discreta e com amor.

Sonha em poder amar um rosto pálido,

emoldurado por cabelos cacheados,

beijar mãos que são habilidosas no violão

que conseguiram tocar fundo seu coração.

Essa mulher só queria ter sido feliz,

ter dado uma chance a sua vida.

Queria ter aproveitado cada momento,

vivido de outra maneira,

tocado outras canções.

Não conheci essa mulher,

mas cegamente torci pela sua felicidade.

E até hoje, torço...

Para que em algum tempo,

em algum lugar perdido no espaço,

algum lugar secreto só para os apaixonados,

ela possa se perder

e mergulhar de cabeça

nos pequenos lábios que a seduziram.

E possa acariciar o rosto branco de seus sonhos

e ser feliz para sempre deitada na areia de uma praia,

com o homem que ama,

vivendo de poesia.

Essa mulher que hoje é nome de rua,

que pouca gente sabe da história,

que até pouco tempo tinha o corpo sepultado

no centro de uma praça,

chama-se Júlia Maria da Costa,

poetisa da ilha de São Francisco.

Miriã Pinheiro
Enviado por Miriã Pinheiro em 14/04/2015
Código do texto: T5206438
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