Diante da penteadeira de três espelhos...
A moça bela arrepiava-se na frescurazita da tarde...
Seus olhos luminosos não abandonavam os espelhos,
E, lá fora, a noite morria sem alarde
Reflexos, miragens disformes e o pente deslizava...
Mecha por mecha desalinhando... os negros cachos...
Seu roupão entreaberto transparece os seios rosados,
De luxúria na noite que silenciava...
A noite gritou arrepiando-se pressagiada,
Absorta, veloz, jogou o pente de ímpeto ao chão...
Era um pardalzito que passara em sua janela, então,
A noite repousou ansiosa , linsonjeada!
De chofre a bela folheou um jornal amiúde...
A farfalhar lembranças na quietude...
Do quarto à meia luz...lembranças e lembrança...
Da velha e boa rapariga desfeita em trança!
Inspirado em texto livre de Clarice Lispector