Tio Bel

agosto de 2007

“Tio Bel, Tio Bel!”

- Onde é que tu tá?

“Tio Bel, Tio Bel!”

- Vamu namorá??

“Não posso dizê

pois tenho vergonha,

mas sei que tu pensas

e comigo sonha.

Eu sei do vadio,

da peste que és,

do bicho remoso

dos choros que fez”.

- Meu bem, meu bem,

não olhe esse lado.

Meu bem, meu bem,

sou moço educado:

Eu busco donzelas,

pois esse é meu fraco,

mas todas eu trato

princesas de fato;

eu canto a beleza,

dedico seresta,

eu beijo a mão nua,

eu beijo na testa.

“Tio Bel, Tio Bel!”

- Parece pra mim!

“Tio Bel, Tio Bel!”

- Me mata assim!

Eu corro pra fonte

pra num velhecer,

pra modi namoro

eu pudé fazer;

nos dia de festa

fico a cortejar,

convido donzela:

umbora furar??

“Tio Bel, Tio Bel!

Tu cria teu termu.

Tio Bel, Tio Bel!

Tá velho, né mermo?

Tu diz que ainda fura,

tu podi mentir,

a todos engana,

mas nunca a mim.

Seu peste sacana,

pinguço, vadio:

como podes ainda

ser puro, gentio?”

- Meu bem, meu bem,

eu vou te contá.

Meu bem, do céu

espero acertar.

Eu conto as coisa

que a mulhé bem qué.

Se minto, importa?

Mas vale a fé!

Tu és as estrela

do céu, a canção;

Tu és a envira

do meu coração:

rasgando meu peito

de cima pra baixu,

matandu de amor,

um pobri de um machu.

“Tio Bel, Tio Bel!

Eu vou revelar.

Tio Bel, Tio Bel!

Quem sou afinar.

Eu sou a menina

dos tempo de moço,

que morreu mais cedo

de puro remorsu.

Quandu ti deixei,

prucausa de um homi

que bate, feria,

metia-me fomi;

e logo aprendi

o bem que tu era:

espero ainda ser

a tua donzela”

- Tio Bel, Tio Bel!

Feliz é que está!

Tio Bel, eu sou!

Vamu namorá?

Perdôo minha filha,

tudo já passou,

me lembro da Dita,

que ali me deixou.

É o jeito te tê

pensando ao menos

e quando eu morrê,

me venha em aceno.

Te chamo querida,

te pego o céu,

te faço do eterno,

Um doce de mel.

“Tio Bel, ô Tio Bel...”