MEU PAI, MEU POETA!
Meu pai foi poeta sem nunca ter escrito um único verso.
Poeta do amor mais puro e profundo que já vi.
No dia em que completei trinta anos
mandou buscar para minha mãe a orquídea mais bonita de Jundiaí.
O cartão dizia que há trinta anos ela o tinha feito, pela primeira vez,
o homem mais feliz do mundo
(sou o primeiro filho deles).
Minha mãe disse com todo encanto do mundo:
- Como você é bobo, Milton! E riram um riso casto.
Minha irmã caçula, depois de onze outros partos de minha mãe,
nasceu no dia nove de maio de mil novecentos e setenta e um
(dia das Mães, naquele ano).
Meu pai deu a ela o mesmo nome de minha mãe Regina – Rainha.
Quando chegou com a certidão de nascimento em casa
minha mãe com o mesmo encanto de sempre disse:
- Como você é bobo, Milton! E riram um riso casto.
Quando estou muito triste gosto de imaginar
o quanto de poesia ele fez entre o primogênito e a caçula deles. E rio. Apenas rio.
Com eles aprendi que poetas são bobos.