O homem e o mar (A CHICO NOGUEIRA)
O mar olhou aquele homem
De coração azul marinho
Quase peixe
Vestido de tarrafas
E que andava sobre suas águas
E que ouvia seus cantares
E perplexo de encanto
O mar contou-lhe seus segredos
profundamente abissais
que só ele, o mar, sabia
E o homem riu do mar
E o mar não se importou
E riu do homem
Quase ave
Despido de asas
E que voava sob os oceanos
E que falava seus líquidos
E febril de ternura
O mar doou-lhe suas carnes
De textura branca
Que só ele, o mar, podia
E o homem embeveceu o mar
E o mar encheu suas veias
E amou o homem
Quase água
E que escoava das dunas
E que tinha gosto de sal
E tomado de ciúme
O mar cobriu-lhe de escamas
Da cor de espumas
Que só ele, o mar, teria
E o homem deixou o mar
E o mar devorou cidades
E procurou o homem
Quase nuvem
E que desmanchava redes
E que despescava sonhos
E vazio de si
O mar cobriu-se de velas
E quebrou tristezas
Que só ele, o mar, sentia.
(Publicado no Recanto em 28/12/2010)