ESTRELA BRILHANTE (para John Keats)

a alma do poeta vai em busca do silêncio

pressente a proximidade do vazio

vive cada instante com valor imenso

como néscio tomado de fascínio

sabe o caminho mas desconhece a hora

o corpo é febril, a palavra convulsa

e - alheio a tudo - o verso aflora

enquanto o anjo negro sobre ele debruça

distante do rigor do inverno londrino

separado de tudo o que mais ama

busca aceitar seu cruel destino

de cedo abandonar a vida e a fama

não saberá do último pensamento

se a uma estrela brilhante ou à mulher amada

deixará inscrita essa dúvida no vento:

será a vida um poema ou uma piada?