RETIRANTE
[ A minha linda mãezinha ]
Ah... quão covarde fui
Em deixar minha mãezinha
Por um bolôto de livros...
Que saudades de minha mãezinha
Que pela manhã os meus dentes
Com leite lavava,
As tapiocas com manteiga ao pôr do sol,
E pela noite, me vinha
Com um banho de sopa e pão francês!
Deixei-a no sertão salgado
De um agreste de maré...
Me mandei pra um lugar ensolarado,
Tão lindo quanto, e sem céu nublado
Quanto meu lugar alado...
Doce peso de uma pobre fé!
...Chora minha mãe!
Agora não tenho mais leite, tapioca, sopa nem pão francês...
Apenas um lugar solitário, escondido e sujo...
Uma rede no meio do lugar
E uma frigideira
Que sedenta espera a lata da conserva
Ser quebrada por minhas marretadas...
Pela manhã preciso na aula contemplar livros
E não mais tenho o meu leitinho quente!
...Ter por longe uma mãe é morrer para sempre de fome!