O ANO NASCE EM JANEIRO. A VIDA, EM MARÇO
Entrego esse poema a todas as mulheres
Que não simbolizam nada. Simplesmente são
As lutadoras do mercado desigual do trabalho
As guerreiras das casas, cozinheiras, lavadeiras, companheiras
Mães, acima de tudo, das gentes. Mães.
As que romperam barreiras no passado opressivo
As que buscam quebrá-las no presente
que faz de gente, coisa.
As donas, moças, donzelas, meninas
As simples, carentes, sofridas, alegres
As que se iludem, que transgridem, se penitenciam
As que não se calam, que vão às lutas a despeito de tudo
As que não se rendem e nem se vendem
Que olham além dos muros, às que não sucumbem
Que não fazem da sedução trilha para estrelismo ou vida fácil ou vida fútil
As que resistem ser mercadoria, vitrine de marca, ponte para produto
As fortes, combatentes, companheiras
As amadas, bem amadas, dignificadas
As plenas, esposas, maridas, mães, pais filhas e espírito santo amém
As escondidas, temerosas
As merecidas, corajosas.
Ofereço esse poema a todas estas e àquelas
Que ainda encontram chão e o pisam com a firmeza decente
Para amar sem explicação, suster a prole com honra
Dividindo o parco
Transmitindo vidas
Espalhando humanidade, doçura, fibra.