VILA RAMI, SUBSTANTIVO PRÓPRIO FEMININO

Minha aldeia, quando ainda era aldeia

E eu mais aldeia ainda no meu apoucamento,

Fez-me extasiar por suas mulheres.

Mulheres Almeidas - meigas e tenazes,

Mulheres Beneditas e tantas outras benditas:

Rezavam e trabalhavam – Trabalhavam e rezavam,

Mulheres Nogueiras: extrato e remédio

Lídias: femininas de lírios

e tantas outras abençoadas:

benziam amor e quebranto.

E havia mulheres artesãs

- modelavam louças e caráter

e fiandeiras dóceis

- teciam tecidos e ilusões

e panificadoras hábeis

- amassavam o pão e modelavam a hóstia

e cozinheiras abnegadas

- multiplicavam o alimento e os amores

E varredoras eficientes

- limpavam quintais e lágrimas

e industriárias registradas em carteira e sem registro civil

- transformavam a matéria prima em poesia concreta.

Havia donas-de-casa submissas

- preparavam a casa e seus filhos para seus maridos que chegavam cansados e bêbados

(As donas de casa morriam sem nunca ter vivido)

Todas eram mães extremadas.

Todas santas circunspectas.

Retenho na memória a lembrança dessas mulheres

E de tantas outras mulheres fortes,

meus amores primeiros:

- Mulheres grandes de minha aldeia pequena!

Dentre elas amava uma pequenina grande rainha

(Minha mãe era pequena e se chamava Regina)

Cujas preces Deus ouvia com zelo especial

Pra me fazer crer que minha aldeia

Era um pedacinho do céu... E eu acreditava piamente

- Foi lá que aprendi que mulheres são gigantes!