Declaração oblíqua

 
Criatura, olha bem e tu hás de notar!
Firma a vista naquilo que ainda não viste.
Cabe tanta verdade num verso vulgar...
O meu verso é banal para que te despiste!
Se alcançares a chave que irá desvendar
meu segredo escondido, não mais serás triste.
Mas de nada adianta somente entoar
cada estrofe que lês, porque o verso resiste.
No meu reles poema é que fiz o lugar
pra dizer a canção que de mim não ouviste.
Fiz meus cantos pra ti pra ser mais que um cantar;
entoei melodias de um sonho que insiste
em ser tudo o que a vida não quis entregar
e que agora precisa deixar que se aviste.
Honro minha promessa e não podes negar!


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Considerando que somente algumas poucas pessoas decifraram o poema (inclusive a destinatária do mesmo, ainda bem!), creio que seja de bom alvitre dar a chave do enigma:

C
riatura, olha bem e tu hás de notar!
Firma a vista naquilo que ainda não viste.
Cabe tanta verdade num verso vulgar...
O meu verso é banal para que te despiste!
Se alcançares a chave que irá desvendar
meu segredo escondido, não mais serás triste.
Mas de nada adianta somente entoar
cada estrofe que lês, porque o verso resiste.
No meu reles poema é que fiz o lugar
pra dizer a canção que de mim não ouviste.
Fiz meus cantos pra ti pra ser mais que um cantar;
entoei melodias de um sonho que insiste
em ser tudo o que a vida não quis entregar
e que agora precisa deixar que se aviste.
Honro minha promessa e não podes negar!


Ou seja, a declaração não é oblíqua somente porque está dissimulada (que é um dos sentidos de oblíquo), mas porque, também, é um acróstico inclinado (outro dos sentidos de oblíquo).