Os Jardins de Eva

I – O Reino e as Dominações

Fitava Eva indolente os seus jardins

Devaneando volúpias perfumosas

A alegre graça dos sabores afins

A professar sobre o divã das rosas.

Pagens, devotos carnais ou querubins

Enchendo o silêncio de ecos maviosos

Imitavam domadores langorosos

Servindo a fera com carícias e assins.

A bela espreguiçou sobre os despojos

E tão rica, sofreu sua atroz miséria,

Destino fatal dos seres desejosos.

Entre risos dados fácil fez-se séria

Toda essa paixão, homens sediciosos,

Nem sempre vale paraísos amorosos

_____________________________

Crescer em agito e ruído útil

E outro tanto crescer em vida fútil

Ser independente, e ir pela cidade

E ir também entre a mulheridade

Que teria ao meu dispor em sua tabas

Caminhar bem neste mundo das diabas

Onde tudo é sacanagem, safadeza e apego

Incluído aí talvez o meu amor maior

Ou mesmo minha malícia, que é menor,

Um mar de guerra e um ponto de sossego

Eu partirei: desprezo o quimérico medo, e ousado

Eu chegarei a esse mundo de mil curvas sinuosas

Com meu traje de ocasião composto em nu e rosas

E de vós serei o acompanhante e o acompanhado

Aos meus olhares poderosos, meus assomos

Gozarei em nossos olhos, ah! amores...

Eu vos amarei sempre assim, loucas flores

A estancar a loucura do pranto e seus pomos,

Em nossos risos desatados pelo vento

E se houver do merecimento aquela lei,

Um amante tão igual a quem me ama

Serei, enquanto a luz conserve a chama,

E de vós conforme, em pedra, lírio lento

Ou memória perenal me tornarei.