'Delirius in labyrinthu'

Tua ausência me estanca e é minha falta de poesia,

é o meu amanhecer frio e sem esperança,

a dor latente na letra sofrível e arrancada do dia;

algo como ficar entre a espada e a lança.

Sem você eu capengo, manco no labirinto do alarde,

crio a independência ao teu cheiro e ao teu domínio,

mas não durmo: nem mais cedo, nem mais tarde,

vou indo às cegas, às apalpadelas, sem fascínio;

sem a tua letra; meu café da manhã,

sem o pão com manteiga-poema,

sem o pecado primeiro; maçã,

sem o doce da luxúria do tema.

Tua falta é o eco que repercute em minha pena,

essa ansiedade feita nos meus insanos dedos,

criados pela tortura de imaginar uma cena,

onde se pode sobreviver pelos degredos.

Tua voz calada me desatina, porque o conheço,

sei dos teus percalços de desejo e devassidão,

cada passo seu, cada rosa dos ventos do teu endereço,

cada palavra tocada pelo tatear da tua mão.

E morro e vivo e volto a morrer à tua espera,

querendo entender de perdão, sem nem mesmo saber,

querendo crer que ainda haverá uma quimera,

que o resgatará pela palavra-direção do meu querer,

no intrincado passo, pelas vias da tormenta mais torta

onde a vista se perde na proximidade da parede,

o labirinto da emoção tentando achar a razão da porta,

no sentimento, lá atrás perdido, emaranhado na rede.

Sampa, 16.04.2008

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