BANQUETE - Regina Lyra
A entrada é quente
e saborosa,
na espera do visitante sedutor.
O prato inicial reticente
faz lembrar o encantamento
de um tempo único,
- às vezes presente.
Em um diálogo integral
o apetite é despertado
como retorno do encantado
explode como vulcão adormecido,
- ou mesmo recém nascido.
Naquele momento sentimental
as mãos não sabem o que fazer,
a pimenta do reino,
branca e suave,
é substituída pela malagueta,
- vermelho paixão.
A hortelã que refresca
dá um toque inebriante
ao “consumé”.
Para o banquete,
iniciado o seu preparo
de dar água na boca,
o paladar despertado
mostra que se farta no pecado,
apenas se acalma
com um prato bem quente.
A visão escurece
pela cortina do cheiro,
os olhos cerrados
dão origem ao tato,
em um toque freqüente
sente o tônus do alimento,
despertado pelo olfato,
estímulo na boca,
objeto do desejo.
O cheiro inconfundível deste prato,
preparado de forma inusitada,
aprovado pelo gosto e pelo caldo.
O sabor apimentado do mestre,
liquida qualquer dieta.
Finalmente,
no vai e vem desta festa,
o seio foi tocado
pelo caldo do prato,
como chave de entrada,
a tranca tímida
teima em continuar fechada!
Enfim a porta se abre,
o talher pode ser colocado
ao lado de cada prato,
o banquete é servido
na sala principal do recinto.
A mesa posta com esmero
decorando o ambiente,
é substituída pela tua mão
num toque indecente.
O apetite aumenta
a mesa é trocada pelo chão,
visão ensandecida...
O banquete mais parece
- alimento do sexo!
A cortina é fechada,
acaba o último ato,
no banquete dos famintos,
dos sedentos de paixão...
(Publicado no livro Insensatas Palavras, 2003).