Balada dos Novos Amantes

- Muitas coisas te pedi,

Poucas coisas tu me destes.

Que podes me oferecer

Que seja algo que preste?

- Muitas coisas te daria

Para provar o meu amor:

De ouro e prata cobriria

Minha mais querida flor.

Mas que posso eu fazer,

Se teu sonho é tão mesquinho?

O que posso oferecer

É o meu amor e meu carinho.

- O que seria amor?

O que seria carinho?

Se na verdade, amor é dor

E carinho, sim, é mesquinho.

- Dizes pois não foste ainda amada,

Isso é coisa muito triste.

Ouro e prata não valem nada

Comparados ao que não viste!

- Que posso eu não ter visto,

Se este mundo todo andei?

- Que podes, então, ter visto,

Se do que falo não conheceis?

Porque queres conhecer o mundo,

Se não conheces a ti mesmo?

É como lavar-se em rio imundo

Ou caminhar no deserto a esmo.

- Se o que dizes é verdade,

Como saber o que sinto?

Sinto, ao irdes, grande saudade,

Não te engano, não minto;

Um rubor me vem às faces

No instante em que te vejo,

Sonho até que me abraces

E sentir teu doce...

E o que aconteceu então

Eu não conto, não revelo.

É claro como o sol de verão

E como o dia mais belo.