Estranho...
“Onde o diabo não pode ir
manda a mulher como mensageira”.
— QUE HORROR!! — exclamais agora,
mas é um provérbio antigo
do tempo em que se dizia:
— Que horror!
(É bom que se ressalte que tal dito
não foi por mim aqui dito, apenas lembrado:
— Jamais seria tão indigno, tão sórdido,
a ponto de proferir
uma tamanha blasfêmia)
Por chocante que pareça
hoje em dia um tal ditado,
confesso que o lembrei
dela quando me apercebi:
— Pois qual razão haveria
para tão ímpar criatura
— Tão excelsa! Tão mágica! Tão sublime! —
vir a cruzar o vil caminho
de um reles mortal como eu?
É pra desconfiar...
Na verdade, eu pensei mesmo,
que era um anjo ou uma deusa:
— Se era deusa então teriam
as preces minhas atendidas sido.
Porém nunca seria a minha vida
tão longa que rezasse o bastante
pra que jus fizesse um dia
a benção de tal magnitude.
Mais provável fosse um anjo
que para advertir teria me vindo:
— Fique atento, seu menino,
pois as coisas deste mundo
estão sempre a desandar...
Pronto estejas todo o tempo
pra com coragem enfrentar
da Fortuna as artimanhas.
Pode ser que muitas coisas,
ao ficar dela pensando,
seja pra mim que esteja olhando:
— Se com ela me identifico
não preciso dizer mais nada,
neste instante já foi dito.
Talvez o meu pensamento pense
que ela não é ela, que ela sou eu!
E isto seria possível
caso eu fosse uma princesa
que teria um sapo virado:
— Ao olhar então pra ela
acharia — com espanto —
que ela sou eu mesmo
logo antes do tal encanto.
Mas como porém penso
que já sapo assim nasci,
não pode este argumento
vir fazer algum sentido:
— Isso tudo deve ser fruto
de carência ou vaidade.
E quanto a ela existir
jamais terei certeza,
só sei que um dia eu vi
— ou fui? — uma princesa!
(estranho... muito estranho...)