presente

enterrado em uma árvore

suavemente balançando

ao ritmo do vento

cercada da luz acalentadora

do sol

enfeitada com o canto dos pássaros

trazendo as boas novas

existe um presente criado para você

árdua tarefa, exigente de inúmeras repetições

um anel de pedra opaca jaz embalado

no tecido de infinitas cores dos meus sonhos

um dia espero que o encontre

é uma oferenda humilde

de alguém que já conheceu o amor

e guarda em um lugar inacessível ao mundo

gratidão por ter vislumbrado, ainda que por

uma faísca de instante

esta dádiva oferecida por você

não posso mais deixar minha morada

para guiá-la ou observá-la

os trovões me cercam e os raios esbravejam

a chuva é incessante e castiga meu corpo

a escuridão suga vagarosamente minha alma

e o que lhe escreve agora é um resquício

que bravamente luta para encontrar

o pouco do que sobrou da luz que existia

para por última vez lhe agradecer

minha morada de madeira carcomida

luta para se manter de pé

nela me sento com uma singela vela

olhando para o abismo da memória

aguentando o ressentimento por tudo aquilo

que deixei passar e me deixou onde estou

em minha morada rezo

para que encontre o presente antes que

tudo de mim para sempre desapareça

rezo para que o guarde junto ao peito

para que um dia

sentada pensativa sobre o passado

na grama onde a luz não adoece aqueles que toca

lembre que o amor oferecido

foi devolvido