SUSPENSOS NO SONHO
Em um sonho, foi ali que te encontrei,
numa noite em que o silêncio vestia o escuro.
Eu, com mãos trêmulas, comecei a esboçar teu rosto,
não com pressa, mas devagar, como quem teme esquecer,
traçando no ar a tua lembrança.
Cada linha que eu desenhava flutuava no vazio,
incerta, hesitante,
como se o mundo respirasse entre os traços,
como se o tempo parasse para que tua face surgisse,
tímida, bela,
revelando-se aos poucos,
como o amanhecer que se demora no horizonte,
esperando ser redescoberto.
E então, vieram as cores.
No espaço ao redor, um véu invisível,
eu misturava os tons,
como quem tenta preencher o vazio de uma vida.
Cada pincelada era um eco do que sinto por você,
um encantamento sem nome,
um suspiro que não se explica.
E ali, no reflexo de um papel que já não era papel,
teu rosto se tornava mais que traços e cores.
Era a harmonia de nós dois,
uma dança silenciosa
entre o que eu sou e o que você é,
um desenho onde cada linha,
cada cor,
era a métrica de uma conexão tão profunda
que palavras jamais poderiam tocar.
Nós, suspensos no sonho,
éramos mais que imagem,
éramos o próprio tempo —
infinitos sem pressa,
se encontrando no vazio.