SUSPENSOS NO SONHO

Em um sonho, foi ali que te encontrei,

numa noite em que o silêncio vestia o escuro.

Eu, com mãos trêmulas, comecei a esboçar teu rosto,

não com pressa, mas devagar, como quem teme esquecer,

traçando no ar a tua lembrança.

Cada linha que eu desenhava flutuava no vazio,

incerta, hesitante,

como se o mundo respirasse entre os traços,

como se o tempo parasse para que tua face surgisse,

tímida, bela,

revelando-se aos poucos,

como o amanhecer que se demora no horizonte,

esperando ser redescoberto.

E então, vieram as cores.

No espaço ao redor, um véu invisível,

eu misturava os tons,

como quem tenta preencher o vazio de uma vida.

Cada pincelada era um eco do que sinto por você,

um encantamento sem nome,

um suspiro que não se explica.

E ali, no reflexo de um papel que já não era papel,

teu rosto se tornava mais que traços e cores.

Era a harmonia de nós dois,

uma dança silenciosa

entre o que eu sou e o que você é,

um desenho onde cada linha,

cada cor,

era a métrica de uma conexão tão profunda

que palavras jamais poderiam tocar.

Nós, suspensos no sonho,

éramos mais que imagem,

éramos o próprio tempo —

infinitos sem pressa,

se encontrando no vazio.

Sezar Kosta
Enviado por Sezar Kosta em 30/10/2024
Código do texto: T8185486
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