Sereia
Eu me apaixonei por uma sereia,
mas tive de devolvê-la ao mar;
fui incapaz de amá-la como merecia
e isso a impedia de respirar
o mesmo ar que eu.
A conheci enquanto vagava sem rumo
pela vasta imensidão do Atlântico
e me encantei pelos seus olhos,
que me hipnotizaram desde o
primeiro contato.
Ela trouxe cor ao céu mais cinza
das noites em alto mar
e até a neblina foi embora
só para deixá-la passar.
O sol passou a sorrir depois
que ela apareceu, mas agora
não se vê mais azul
e as nuvens choram sobre
a minha própria chuva.
Penso que o céu chora porque sente minha dor,
é mais fácil me colocar como única
nessa situação,
não gosto de pensar que outras pessoas
também sentem dor.
Enfrentei muitas noites de tormenta,
meu barco virou e eu desabei fundo
no oceano profundo;
mas ela me puxou de volta.
Deu-me a graça de sua companhia,
mas foi embora como o vento que assobia
e agora tudo o que sinto é agonia
pensando que nunca mais poderei vê-la,
ou que nunca vou aprender a amar,
por isso é melhor deixar
a solidão me abraçar
e desistir de vez de tentar.
Sinto que machuco a natureza
toda vez que toco os pés no verde
ou quando uma flor me chama a atenção
e eu me aproximo para sentir seu perfume.
Assisto o cinza escuro do meu âmago
transbordar e ser sugado pelo céu,
e assisto chover.
Chove o tempo inteiro.
Eu me apaixonei por uma sereia
e a perdi,
mas pelo menos não tive tempo suficiente
para machucá-la,
e só quebrei o meu próprio coração.
Espero que ela nunca mais chegue perto
do meu arpão.