FUGINDO DO TÉDIO, CONTIGO

Tenho medo do tédio. Fujo.

Prefiro mergulhar na descoberta

(Não no incerto da aventura)

e conhecer teu novo vestido

com a barra arrastando na praia,

largado na areia noturna,

levado, como oferenda, pelo mar.

Depois de Descobrir

o teu inédito interior,

capaz de quebrar

todos os passados epidérmicos,

Indistintamente vividos.

Nossas vidas independentes,

lavadas no sal, sob a lua.

Vivo do novo concreto.

Tenho nome e assumo

as consequências

De penetrar tuas profundezas.

De refazer o universo,

para corrigir os imperfeitos.

Reconstruir e não reconstituir.

Preciso dos teus feitos

nessa nova arquitetura.

Tua estrutura polida

trazendo à tona

a carne do teu subterrâneo;

os ossos vivos do teu interior

me abraçando diante do mar

como troféu definitivo.

Não me negarás habilidades.

Tens esquadro e compasso.

Me esquadrinha,

corrige a verga do meu abrigo,

o mastaréu da canoa

a caminho da derrota segura.

Me refaz com os teus acabamentos; calafetos contendo a água;

verniz feminino besuntando-me

contra intempéries do tempo.

Removendo limo do tédio.

Tens brilho e bálsamo,

fluidos destilados

para embelezar meu sangue,

adicionar nédio aos meus nervos.

Envernizar o órgão da noite.

Estou pronto, esperando

Tua mão de destruir pretéritos.

Tua obra de renovar o masculino.

De subjulgar o subjuntivo.

De tecer presente e futuro.

Sou um homem oco.

A missão é preencher o escuro.

Vem, com a gana felina, abocanhar

todas as minhas dimensões;

ocupar espaços onde possas cravar

teus dentes amorosos.

Estarei de casaca solene

de antigamente, te esperando,

com uma taça de vinho,

para destruires o tédio

que me consome e fatiga.

E construir novo edifício,

Segundo tua engenharia.

Obra de reino, não de sonho,

mas de realidade edificante,

onde eu possa desfilar

sem roupa de disfarce,

por não ser um carnaval qualquer,

mas uma solenidade onde reinas.

Sigamos, tu e eu, anestesiados,

como se tivéssemos atravessado

a noite em bares ordinários,

bebido drinques baratos.

E nos embriagado de sexo,

com vontade de esquecer passados.

Com orgasmos, e o verbo amar,

nos tempos presente

e mais que perfeito.

Sigamos palmilhando

o calçamento da obra

cujo limite não é a aurora,

nem o poente com noturno véu.

Nem o outro lado do rio,

ou a profundeza oceânica.

Que não está a leste nem a oeste.

Nem mesmo no céu.