Memória

Escrevo sobre você

porque tenho medo de esquecer

de tudo o que eu sinto por você;

tenho medo de que seus traços

se desalinhem nas curvas da minha memória

e que eu me esqueça da nossa história.

Ou da minha parte dela,

que ainda queima dentro de mim

tão viva quanto aquarela,

que me faz querer me jogar da janela

e não pensar no nosso fim.

Talvez você se arrependa de ter sido

apenas o meu segredo,

mas você foi tão mais que isso para mim.

A dúvida é tudo o que me resta,

porque você foi embora

e eu me perdi na floresta.

Sinto que a natureza é a única

que ainda me ajuda a manter a sanidade,

mesmo que eu ainda confunda

o que é verdade

e o que apenas habita a minha vontade;

mesmo que eu me perca entre

consciente e inconsciente,

acho que tudo se resume aos meus sonhos,

porque é lá que você está presente.

Acordo em prantos

quando consigo dormir,

só para te assistir partir

mais uma vez.

Até hoje já contei milhares de despedidas

e em cada delas uma parte de mim se foi também.

Quantas partes ainda me restam

para eu perceber que devo estar aqui apenas por mim

e não mais ninguém?

Quando vou deixar ir a minha metade

da nossa história

para que ela se junte a sua

em alguma esquina do Universo

e eu talvez te tenha como minha

em alguma outra vida?

Eu espero te encontrar em outra linha do tempo

e ter mais sorte,

e ser mais forte,

e ser o teu Norte,

e que você também esteja me procurando,

pronta para me encontrar,

para me fazer ficar,

para me amar.