Guiam-me os Orixás.
Eis um mítico sarará que transformado em neguinho, virastes negro de direitos. Pergunte-vos, os senhores que vos exploram, entregam-te alguma gota de amor? Quem andas contigo neguinho?
Eu ando há sóis, mas, sem estar sozinho. Guiam-me os orixás das águas, aqueles que vivem na mata, os que traçam ruas e abrem caminhos. Sois o que não queiras que eu sejas, fui o que querias que eu sempre fostes.
Entre idas e ser, existo como nuvens ao vento, balançando feito guias ao peito. Marolando como num sambar dos ancestrais, mergulhado em oceanos pervertidos por gozos e urros de Xangô.
Decorate homem, não sois mais seu, peças que desprendem das trevas, não andam por maus caminhos. Eis gritos ecoam nas ruas noturnas, manifestadas pelos coretos dos alambiques, esgotados pelo beber dos meus ancestrais.
Eis trilha que se reveste em ondas diante das calças brancas que no seu trilhar, expõe samba pela culatra. Grita-te pobre homem que com sua cor sem sal, sempre pregastes a superioridade. Chora-te abutre, pois, os caminhos que faço, levo comigo os meus ancestrais.
Pergunto-te abutre sem faro, ainda sois o seu neguinho? Responda-me abutre, os versos que faço magoam-te pobre farejador? Eis a sina das aves farejadoras, revestidas pelo cheiro do sangue negro, encontrou universos de riquezas, mas, hoje vives de passado, enquanto vivemos pelos cantos dos orixás.