POR AMOR
Por amor, mas não de amor
Se temperam cicatrizes.
Salgam, moem, adocicam
E levam ao forno ligado.
Por amor, mas não de amor
Gritam, desligam na cara,
Sorvem o doce amargor
Lacrimejante, salgado.
Por amor, mas não de amor
As palavras ficam mudas,
Pesadas como plumas,
Inquietantes, dispersas.
Por amor, mas não de amor
O ocaso é triste acaso
De olhos cinzas que tiram
A cor forte do meio dia.
Por amor, mas não de amor
Podemos morrer sozinhos,
Como quem sempre amou
E não soube como dizê-lo.
Por amor, mas não de amor
Se roem unhas, quebram taças,
Arrancam todo o cabelo
E terminam como uma rua
Nua, sem saída, sem placa.
Por amor, mas não de amor...
Por amor se morre,
De amor se mata.