De Olhos Fechados

De olhos fechados...

Tatear o céu,

tatuado em pele e pêlos,

pela tênue geografia

ao ocaso do abajur.

Sem luz...

Interpretando plenilúnios

ao ler Neruda, em braile,

sobre os poros arrepiados...

Viajar com os dedos

pelo teu corpo,

sem o auxílio dos olhos,

guiado por tua mão

(Cego iluminado...)

no tátil alumbramento

da nudez divinizada.

Que deus sou eu

brincando de paraíso,

preferindo o verbo à luz

pra cantar a perfeição?

Que deus sou eu

demarcando com os lábios

seu celeste território

pra buscar a eternidade

num tremor de infinito?

Ah, humana ascensão,

ver a luz de olhos fechados...

crucificado em ti,

sobre os teus braços abertos.