MULHER (II)

Que estrela fugitiva

deixou um rastro de céu

me seguindo nos teus olhos?

Em que noite de setembro

o luar veio aprender

a ternura do teu riso?

Com que direito as maçãs

se apropriam das auroras

que se coram nos teus lábios?

Por que a messe de trigo

avia as vestes de sol

com a luz da tua pele?

E o milho por que imita

a seda dos teus cabelos

para ocultar os rubis?

O estojo das romãs

por que te dá diamantes

sobre a relva do jardim?

De que minúscula galáxia

veio o astro cintilante

que exilas no anel?

E por que as tuas pernas

formam esse delta secreto

para uma única rosa?

Ah, por que a poesia

me persegue, no teu corpo,

disfarçada de mulher?