Angela, a filha do Vento
Ângela, a filha do Vento
Há muito tempo eu não me atrevia a fazer poemas que falassem de amor
O luto em que me embucei acobertava-me com pesadas e doloridas restrições
A não dar espaços, nem tréguas, para os embates de Eros, esse deus-menino sutil e tentador
Minha fortaleza, inexpugnável, centrava-se em altos muros, arrimada em sólidos alicerces de objeções
Eis que, numa tarde invernal, uma dessas tardes pálidas, descoradas, tu apareceste, vinda do Inesperado
Ataviada com tuas vestes coloridas e este largo sorriso de criança, a iluminar o mundo a tua volta
Desde então tu inundas minha vida de mimos, a me brindar com tua presença e teu messianismo apaixonado
És tu, Ângela, filha da mata e do vento, que neste meu segundo retorno de Saturno mergulhaste confiante em meu oceano de águas revoltas
Chronos me diz, judiciosamente, que faz pouco tempo que estamos juntos, a querer frear nosso ímpeto adolescente
Recorro a Kayros, um deus que cuida da vida de outra maneira, testemunha dos presentes que tu me trazes
Ainda ontem, tu plena de vida em meus braços, a contar orgasmos intermináveis, a fluir em torrente
Confirmavas-me, de pleno, o quanto nos renova o amor, e como é imenso e valioso o bem que me fazes.
Terras de Olivença, tarde de sábado, meados de Outubro de 2021
João Bosco