FALTA UM RETRATO NA ESTANTE

Da porta, quando entro, observo.

e, num lampejo,

Lembro da gente, das nossas coisas,

dos nossos planos,

dos nossos beijos, dos nossos jantares,

explorando juntos diferentes lugares ...

Aquele sofá marrom da sala,

à esquerda de quem entra.

Lembra dele?

Lembra do que fizemos sob o testemunho dele?

Lembra do teu corpo tocando o meu?

E a mesa?

A mesa que se quebrou, que eu consertei e não ficou direito?

Delícia que só a química perfeita de dois corpos pode fazer.

Encaixe perfeito no auge do prazer!

Como vou esquecer disso?

Você esqueceu?

Como vamos esquecer de cada carícia, de cada canto desta casa?

Da poltrona do escritório?

Onde uma única vez, fizemos o mais divino dos amores?

Você, ajoelhada ...

Você, sentada ...

Sublime volúpia ...

E a cama branca, de tantas vezes?

De tantas juras?

De tantas propostas?

Do fechar de olhos e do mergulho num mundo só nosso.

Das comédias românticas na tv, que mesmo sendo comédias,

Me faziam chorar?

Resta agora um vazio do lado direito.

Era seu.

Já não é de ninguém.

E o carro?

A garagem?

A experiência única?

Teus pés adornando o painel,

Quando a caminho

Aguardávamos, excitados, o momento da chegada?

Detalhes que jamais se apagarão.

Porque te amei e ainda te amo.

Era tudo mentira?!

Foi um ciclo, você disse ...

O melhor de mim, o amor que finalmente julguei ter encontrado,

Para você não passou de um ciclo!

Não me conformo.

Minha cabeça gira.

Não entendo.

Confesso.

Segue a tua busca!

Segue procurando em outros, nos beijos de outros,

as tuas expectativas!

Eu sou mais frágil do que imaginava.

Você me fez desnudar as minhas qualidades,

Mas também as fraquezas, os defeitos.

Só sei que existo, só isso,

e que falta um retrato na estante ...!

Mark Rebew