TEOGONIA
Para Antonieta
Hoje é um dia de voltar.
Palavras marcando a trilha que fizemos,
Uma constância nos sentimentos,
Uma densidade e firmeza no leme.
Lições de como viver comigo
Aprendi contigo.
Sem apostas, sem apólices
Tua negra inquietude sorria.
Quis rios para ti, tivemos mar.
Sobre mártires e arte lemos
No céu, a sorte até na última estrela
Estrelas de um carnaval...
Vimos deuses ordenando guerras:
Ouro negro, barril de pólvora;
Na posse de Abbas
Israel mata seis em Gaza.
Títeres ou titãs ao redor
Ordenhávamos o futuro.
Vassalos fomos de manifestações culturais
Colhendo rosas de setenta pétalas
Do jardim de Midas.
O espaço e o tempo estendiam-se.
Antes de singrar o salso elemento
Já dosava o condimento de estilo
Seu mamilo
Néctar e ambrosia.
De maior tomo capítulos romanos:
LVII — “Quando aludem a uma pomba negra,
Davam a entender
Que a mulher era egípcia.”
Amar muito deu certo, nosso plano.
Sofremos deste mal.
Lascívia, o nome dela.
Letras mortas para cendrado amor.
Corremos dadas as mãos
Por onde borboletas meio-dia
Confeitavam o ar quente,
Asfalto e semáforos.
Inspira fundo, osso poético,
Engravidar sandálias.
À beira de mananciais
Partidas políticas ao vivo
Dividindo a herança fiscal.
Às meias palavras
Sorrisos inteiros
Nossa novela, nosso novelo.
Muito vivemos:
Marés mortas,
Rumor de pássaros enérgicos,
Preconceitos infláveis,
A terra chorando larvas,
O céu lacrimejando estrelas,
Poetas gargalhando versos,
Medalhas herdando filhos,
Currículos de paz,
Permeios e tradições,
As ondas ou um simples diálogo.
Alianças não algemam almas gêmeas.
Concluímos depois.
O fluxo das riquezas
Criando nas suas vias
Sua prole,
Favela pobre.
Na dêixis discursivas
A linhagem divina transcende a genética
Mas fugir à regra
Dá mais lucro
Na lei tem fulcro.
Faz sulco na tábua da lei
O milagre das uvas,
Um café no paraíso,
Nossas toucas, tuas figas,
Nossa coleção de amigos,
Neste caos de pais viúvos, mães são tudo:
Fiel, peso e ouro.
Astronômica coroa
Estrelas sobre o teu cabelo.
No novo clã formado
Princesas e soldados.
Nesta magnitude
Éons;
Desde o final do período terciário
Da era cenozóica
Até tal nume poético
Procelosas mitologias,
Tertúlia de parábolas...
Teu lábio direito,
Teu corpo capela,
Teu busto altar,
Na boda vestes o bolo.
- Insta quereres.
Metais nobres, madeiras de lei,
Alabardas e estacas panges
Nada te tange.
Nas hostes
Nossos os nacionais.
Sem preço, inestimável
Antonieta,
Teu nome.
- Trouxe-te panos viajores.