DESTINATÁRIA
Tu és minha escritora sem sabê-lo.
Quantas vezes o pensamento
de que lês o que escrevo
não me incentivou a fazê-lo?
Quantas vezes não rascunhaste
as primeiras linhas dos versos
e, na luz acesa, não me cantaste
o ritmo das estrofes, rindo ao relógio?
Quantas vezes não me pontuaste
onde cada canto de ti se encaixava
e sopraste a métrica dos teus lábios?
Quantas vezes não te compuseste
do infindável vocabulário mágico
que representa a sua beleza
na vasta língua portuguesa?
Quantas vezes não é só teu nome
que confere valor ao meu poema?
É só na sutileza da tua leitura
- Se lês, porventura, –
que meu texto é texto.