PALAVRAS RASGADAS
Rasgo as palavras em mil pedaços
Rasgo as palavras com raiva e dor
E lanço-as no irado furacão
Que violentamente
Passa rasando a minha porta
Não me causarão mais embaraços
Não machucarei mais ninguém
Nem o meu nem o teu coração.
Refugio-me dentro de mim
Onde encontro sempre acomodação
O que se passa cá fora, já não me importa!
Castigo-me
E flagelo-me com severidade
Por estar sempre
A andar em contramão
Eu não infrinjo as regras
Por gozo ou por maldade
As palavras saltam da boca
Sem que eu consiga pôr travão
É a minha santa ingenuidade.
Agora ...
Com as palavras rasgadas
Já não vale a pena, emendar o soneto
Perdi o meu grande amor
Que eu julgara tão grande
Mas afinal era pequeno
Não resistiu a um contratempo
Eu havia enviado rosas
Mas chegaram apenas os espinhos.
Fui comprar um cadeado
Para fechar no peito o coração
Dei quatro voltas á chave
Não vá o tresloucado
Querer fugir da prisão
E voltar a meter-me em cadilhos.
Agora só vou amar o próximo
Como se fosse meu irmão!
©Maria Dulce Leitão Reis
Copyright 27/04/15