Ah! Aquele Carnaval!

Não tinha roupa.

Não sabia eu com que roupa ia,

"Praquele" samba que você tinha me convidado.

Era carnaval, e não tinha carnaval,

E eu não tinha roupa.

Não tinha idéia,

Não tinha momento,

Não tinha desfile...

Não tinha bloco.

Não tinha aquela alegria.

Era terça de carnaval

Nem ressaca tinha.

Foi súbito!

Um começo de assunto,

Um conhaque ruim,

Uma velha que gritava na rua,

Fui tentando de todo modo seu sorriso atingir.

Venenoso ano passado,

Fez da gente um poema triste.

E nem fez carnaval.

Já é quarta de cinzas,

E o samba não veio,

A apuração de votos não aconteceu.

Tão cruel quanto Capitu e bem parecido.

Ano passado foi dissimulado.

No malabares de Paco tive um sinal.

No sinal olhar pendente.

Quem nunca teve um olhar quente?

Aquelas passadelas, quase imperceptível,

Mas tava lá.

Já é a primeira sexta da quaresma.

Jejum de carne pra qualquer cristão.

Mas tive uma língua

Que sonhava há décadas.

Daí em diante

Foi samba.

Foi olhar de cigana oblíquo,

Foi Vinícius.

E Chico César.

E tantos contos eróticos que nem se sabe.

Foi de alma,

Foi de pele,

Foi de ontem pra hoje.

Do amanhã não se lembra,

Que há fome? Nãoo se importa,

Não se importa mais o certo.

É um holocausto de todo ser,

Do saber ser,

Do tentar ser.

Até no café de agora

Eu penso no amanhã.

Que diabos!

Ou,

Sabe Deus?

Renann Calazans
Enviado por Renann Calazans em 26/02/2021
Reeditado em 26/02/2021
Código do texto: T7193320
Classificação de conteúdo: seguro