TRISTE MELRO

O amor, quando acaba, cicatriza.

Aí vem nova onda de paixão,

reabre a ferida,

ruídos de ruidosa colisão,

o novo amor quer comida.

Como âncora de antigo navio,

o antigo amor conhece o fundo do mar,

entre pérolas mortas de frio

desfila seu último sonhar.

Escreve suas memórias

nas paredes de naus adormecidas,

grita seu nome, conta sua história,

vive a ruína demolidora de sua vida...

O amor, fenecido e terminado,

canta, sussurrando, o último bolero,

quiçá, dolente, o secreto fado,

viveu e morreu como triste melro.