ESTRANHA
Era uma moça tão triste,
Sem rima, poesia ou bordão,
Era o retrato na sala,
Moldura da solidão.
Era uma moça tão fina,
Tão educada, talvez,
Que era a sua rotina
Não demonstrar a nudez.
Usava saias compridas,
Calças largas de bazar,
cabelos presos por cima
E sapatos de sonhar.
Era uma moça tão frágil,
Ao mesmo tempo tão forte,
Sempre passava tão ágil
No meu olhar de consorte.
Era uma moça discreta,
Dela não ouvi palavra,
E passou como liberta
Em minha vida escrava.
Era uma moça tão doce
Que a própria abelha a invejava...
Um dia pensei que fosse
Meu sonho que a inventava...
Era uma moça tão bela,
Passou, fechei a janela.