ESTRANHA

Era uma moça tão triste,

Sem rima, poesia ou bordão,

Era o retrato na sala,

Moldura da solidão.

Era uma moça tão fina,

Tão educada, talvez,

Que era a sua rotina

Não demonstrar a nudez.

Usava saias compridas,

Calças largas de bazar,

cabelos presos por cima

E sapatos de sonhar.

Era uma moça tão frágil,

Ao mesmo tempo tão forte,

Sempre passava tão ágil

No meu olhar de consorte.

Era uma moça discreta,

Dela não ouvi palavra,

E passou como liberta

Em minha vida escrava.

Era uma moça tão doce

Que a própria abelha a invejava...

Um dia pensei que fosse

Meu sonho que a inventava...

Era uma moça tão bela,

Passou, fechei a janela.

Gilberto de Carvalho
Enviado por Gilberto de Carvalho em 24/01/2021
Código do texto: T7167817
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