REDEMOINHO

Meu coração deve ter uma fresta

por onde me escapa o amor,

vira solidão o que era festa,

vira espinho o que era flor...

A enchente que o possuía

um deserto só, ali, diante,

se torna cascalho, areia fria,

sem oásis, chão escaldante...

Quem há de ser sem cadeado?

Amor não é passarinho,

nem o coração flechado

vive fora do ninho...

A parte que falta some,

nem fadas e duendes hão de achar,

o amor é um bicho com fome,

desses que só pensa em se saciar...

Tem quem se entrega, feliz,

procura a face do amor feroz,

que o caça como a uma perdiz,

coração vencido, ama o algoz...

Quis, um dia, um só sentimento,

que possuísse meu coração, todinho,

mas o amor tem parte com o vento,

varreu e o fez em folhas, redemoinho...